segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Análise do ano


Num ano em que li um pouco menos do que o que vinha sendo habitual ( li 56 livros), houve, como sempre, livros que foram mais marcantes. Mais uma vez as minhas leituras foram maioritariamente  romances, mas também a história, a saúde e o desenvolvimento pessoal foram contemplados. Ao olhar para este 2016 fica um sentimento de alguma frustração por, como é hábito, serem muitos os livros que queria ter lido e não ter tido capacidade para mais.
Há aqui algumas confirmações, algumas descobertas e muitas horas de prazer.
A ordem refere-se apenas à ordem de leitura, cronologicamente falando. 
Sem mais demoras:

domingo, 29 de janeiro de 2017

O Ruído do Tempo


O novo livro de Julian Barnes é uma biografia romanceada da vida de Schostakovich. Este foi o maior compositor soviético, no entanto, a estreia da sua ópera Lady Macbeth de Mtsensk vai colocar a sua situação profissional e a sua vida em risco. Esta, mal recebida por Estaline irá provocar uma perseguição ao compositor. O autor mostra-nos um  homem dividido entre a sua criatividade , o medo e a coação de que é vítima. 
Livro com escrita de grande sensibilidade que é ainda um retrato da sociedade soviética ao longo do século XX.

terça-feira, 24 de janeiro de 2017

Homens Imprudentemente Poéticos


Cada novo romance de Valter Hugo Mãe agita as águas nos meios literários.
A coincidir com os 20 anos de carreira do autor, a edição de Homens Imprudentemente Poéticos traz-nos um romance com uma floresta no Japão profundo como cenário. Este é um local de suicídios onde dois vizinhos vão alimentando uma inimizade crescente.
A vida e a morte, o bem e o mal, o amor e o ódio, a sorte e a falta desta,  tudo servido com uma linguagem poética, como Valter Hugo Mãe já nos habituou.
Uma escrita que deve ser saboreada.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

Gaivota


Sándor Márai é um autor incontornável e os seus livros proporcionam sempre uma boa leitura.
Um alto funcionário acabou de assinar um documento que irá afetar a vida de milhões de pessoas. Nesse momento uma mulher surge e pede para lhe falar. Esta mulher é uma sósia perfeita da mulher que ele amou e há muito desaparecida. Daqui em diante toda a segurança e a prudência que este homem sentia vão ser abaladas e a realidade e o imaginário andarão de mãos dadas.
Um exercício de reflexão sobre o envelhecimento, a vontade/incapacidade de amar e a paixão, publicado originalmente em 1943 e que é também um reflexo dos tempos difíceis vividos na altura.

terça-feira, 17 de janeiro de 2017

O Luto é a coisa com penas



Max Porter escreve sobre uma família enlutada pela morte de Sylvia, a mãe. Um pai à deriva na sua dor, dois filhos que tentam compreender as mudanças que as suas vidas ressentem. O corvo é a figura incómoda, negra e desagradável mas também cheia de humor, que vai acompanhar esta família destroçada na sua reconstrução.
Com muitas referências literárias, mais concretamente a Ted Hughes, Sylvia Plath ou ainda Emily Dickinson a narração divide-se pelas vozes do pai, dos filhos e do corvo. Dividido em três partes que refletem as três fases do problema que a família vive: na primeira parte o aparecimento do corvo, com a morte da mãe/esposa; na segunda parte a luta desta famíla para prosseguir e, por fim, na terceira parte a partida do corvo perante o "trabalho" feito.
Com uma escrita em prosa mas que é altamente poética, tratando de um tema tão doloroso com momentos de grande intensidade emocional, mas também momentos de humor, o Luto é a Coisa com Penas é um livro difícil de classificar mas de uma grande beleza numa forma muito original.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

E quando eu não puder decidir


Este pequeno ensaio trata de um tema central das nossas vidas: a nossa morte e as decisões a tomar para um final de vida digno.
São abordadas questões como o direito à informação, o modo de encarar as doenças, o consentimento, a morte assistida, a eutanásia ou o testamento vital. O processo de preparação para a morte e as questões de ética com ele relacionadas são aqui abordados nas suas várias vertentes de forma inteligente e clara.
Um pequeno livro muito interessante, incluído numa coleção de qualidade que tem ainda a vantagem de ter preços muito acessíveis.

terça-feira, 10 de janeiro de 2017

Santuário


Num ambiente muitas vezes arrepiante conhecemos a história de dois irmãos cuja infância ficou marcada pelas peregrinações Pascais a uma praia do Norte de Inglaterra cujo objetivo era curar Hanny, o mais novo, que é mudo. Numa envolvente sinistra vamos descobrindo uma família guiada por uma mãe amarga e obsessiva, de uma religiosidade doentia, de uma inflexibilidade extrema. As escapadelas dos irmãos e as suas brincadeiras acabam por trazer ainda mais suspense ao romance.
Bom livro, com um excelente domínio da linguagem e grande capacidade de nos manter presos à leitura mas também à cadeira. Uma estreia que promete.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

A Casa do Silêncio


Orhan Pamuk não necessita de apresentações. Pela sua escrita temos vindo a conhecer a Turquia e a sua cultura e o livro A casa do Silêncio traz-nos, mais uma vez, as movimentações sociais e políticas deste país no início dos anos 80. O eterno dilema e consequente divisão entre os que defendem uma maior abertura/ocidentalização e os que preferem manter as tradições orientais, o peso do preconceito e do medo na condução- e ás vezes destruição das nossas vidas, são os temas centrais deste belo romance que acompanha uma família ao longo de três gerações. 
De grande atualidade apesar de editado originalmente há mais de 20 anos.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

Paris-Austerlitz


Este pequeno mas intenso livro traz-nos a história de amor entre o narrador, um jovem pintor Espanhol oriundo da Burguesia, e Michel, um homem maduro Francês, operário, de cuja morte recente acaba de ter conhecimento.
Escrito ao longo de vinte anos, durante os quais os avanços e recuos foram muitos, Chirbes faz-nos um retrato frio mas caloroso do Amor e da sua (in)capacidade de redenção enquanto descreve as dificuldades vividas em França durante e após a segunda Guerra Mundial. Também a violência familiar, as condições de vida precárias  nalgumas zonas de Paris e a vivência da nova "peste" do final do século XX são bem retratadas.
Num estilo e com uma temática muito diferentes do anterior Na Margem, trata-se de um livro que nos interpela e nos deixa com vontade de mais.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

Numa Casca de Noz


Desde que descobri a escrita de Ian Mc Ewan com Expiação, a notícia de um novo romance deste autor é sempre acompanhada de entusiasmo e expectativa. A surpresa surge logo às primeiras linhas quando nos deparamos com um narrador que é um feto cujo nascimento iminente não auspicia nada de bom. Trudy é casada com John, de quem espera um filho, e é amante de Claude, seu cunhado. A juntar-se à traição descobrimos a maquinação de um assassínio e através do relato do bebé em gestação acompanhamos esta dupla sem escrúpulos. O final irá ser o esperado ou iremos assistir a um volte-face? O suspense mantém-se até ao fim e este acaba por não nos surpreender.
Um livro cheio de reflexões sobre o mundo atual que se lê de um fôlego e com muito prazer.