O Golfinho

 Do mesmo autor do famoso O estranho caso do cão morto, Mark Haddon, chega-nos este romance que o confirma como um excelente autor. No entanto, e para aqueles que leram o seu primeiro romance, esta história não tem nada em comum com a do menino autista que decide investigar a morte do cão.

O livro começa com a viagem de avião de um homem, uma criança e uma mulher grávida e com a queda deste. Apenas o bebé não nasido irá sobreviver e a partir daqui a história toma um rumo completamente diferente e irá dividir-se entre a vida da bebé sobrevivente, Angelica, tiranizada e abusada pelo pai, e o mundo da mitologia em que esta se refugia. Dividido entre uma realidade cruel e muito de irreal, mitológico e histórico, este é um livro de leitura exigente, servido por uma escrita de grande qualidade e precisão.

A Mais Preciosa Mercadoria

A mais preciosa mercadoria é um pequeno livro que nos traz uma história intensa e cheia de significado.

Um casal de lenhadores, sem filhos, vive junto da linha de comboio por onde passam mercadorias estranhas. Um dia, de um desses comboios, é atirado um embrulho que a mulher irá recolher e perceber com espanto tratar-se de um bebé. Este bebé irá alterar a forma como encaram a vida e o mundo que os rodeia. As dificuldades vão surgir a cada momento, mas a par com elas, também a esperança irá alimentar este casal e dar-lhe forças para ultrapassá-las.

Jean-Claude Grumberg é filho de um sobrevivente de Auschwitz o que o inspirou na escrita deste livrinho que é marcante, tanto pelos temas abordados como pela forma como o faz: com sensibilidade e subtileza.

Sapiens - Uma Breve História da Humanidade

 Yuval Noah Harari é um inteletual israelita que se tem destacado nos últimos anos pelo mundo inteiro. Historiador e professor de história em Jerusalém, escreve em Sapiens-Uma breve história da Humanidade  sobre a evolução do Homem desde o seu surgimento até à atualidade.

Na perspetiva do autor o Homem ter-se-á desenvolvido dentro dos limites que as ciências naturais lhe permitiram sendo que as ciências sociais definem a sua atuação. Terá sido a capacidade de cooperação que lhe advém da capacidade de crer em coisas imaginárias que tornou o homem o animal dominante no mundo. Mas se Harari considera que temos, como espécie, capacidades únicas também deixa claro que  devido a estas  a destruição de outras espécies e do planeta tem sido uma constante ao longo da nossa evolução.

Este livro poderá não trazer novos conhecimentos mas tem a virtude de expor as ideias com clareza e de forma acessível a todos os leitores. Acresce ainda que, apesar do seu volume, eventualmente assustador, se lê de uma assentada e com prazer.

Nada a temer

Volto a Julian Barnes sempre com imenso prazer. Nada a temer surge agora numa reedição da Quetzal e apesar de não ser uma novidade mantém todo o interesse.

Barnes escreve na primeira pessoa sobre a sua experiência e vivências com a doença, o envelhecimento, a morte, a religiosidade e a sua influência na forma como encaramos o nosso fim de vida. Há histórias pessoais, perspetivas de muitas pessoas famosas ao longo da história, mas também do seu irmão que é filósofo. A experiência de perder os pais, a importância dos filhos, Deus, a importância da memória são aqui abordados com elegância e humor.

Sendo um "ensaio" sobre a morte , Nada a temer é acima de tudo um livro sobre a vida e a forma como a vivemos. Apesar do tema e das interpelações que nos faz, é uma delícia da primeira à última página.

Caronte à espera

 

Primeiro romance de Cláudia Andrade, que no ano de 2019 publicou o livro de contos Quartos de final e outras histórias, que maravilhou a crítica nacional.

O protagonista desta breve mas intensa e por vezes desconcertante história, artur, é um homem reformado que perdeu o interesse pela vida e que decide suicidar-se. No entanto, logo após ter tomado esta decisão uma fotografia e um dos retratados nela irão alterar os seus planos.

Acompanhamos então Artur numa viagem física que é também uma viagem interior na qual muitas das suas questões são também nossas e as referências a clássicos da literatura são inúmeros.

Rua de Paris em dia de chuva

Quarto romance (3º a ser editado) escrito por Isabel Rio Novo, Rua de Paris em dia de chuva é o título do livro mas também do quadro que lhe serve de capa e que foi da autoria de Gustave Caillebote, pintor, desportista e empresário Francês que fez parte do movimento impressionista.

A Autora e narradora é fascinada há muitos anos por Caillebote e após um encontro com Helena, uma professora de história da arte, decide escrever sobre ele.

Enquanto vamos acompanhando a vida da família Caillebote e mais em pormenor a de Gustave,  vamos também descobrindo os problemas de Helena e as mudanças que se viveram na sociedade na época em questão: o último quarto do século XIX.

Excelente escrita mas muito acessível, num romance que tem a capacidade de nos transportar para a época e para o meio artístico de então. Imperdível para quem aprecia o Impressionismo.

A luz de Pequim

Francisco José Viegas, o autor do policial de que hoje venho falar, é jornalista, editor e um autor com um vasto, mas estranhamente discreto, palmarés de romances publicados. O protagonista desta história é o nosso já familiar Jaime Ramos.

Dois corpos aparecem em locais diferentes e aparentemente sem relação entre si, no entanto a investigação do inspetor Ramos vai descobrir as ligações ao submundo Portuense, num percurso que o vai fazer reviver alguns momentos marcantes da sua vida.

Bem escrito, com bom ritmo e usando a história destes crimes para questionar o meio que nos rodeia.

A tábua de Flandres

Pegar num livro de Arturo Pérez-Reverte é sempre garantia de momentos bem passados. Neste romance o autor junta um quadro famoso a muito mistério e crime.

Uma jovem restauradora de pintura é contratada para fazer um restauro do quadro A partida de xadrez de Van Huys, antes do mesmo ser leiloado, mas os mistérios que poderão estar na origem do quadro atravessam os cinco séculos que nos separam dos retratados e provocam muita agitação na atualidade.

Como habitualmente uma escrita que nos prende pelo ritmo, pelo suspense e pela forma como o autor consegue criar uma trama que nos envolve desde a primeira linha.

Livraria Preferida de Portugal

Anualmente a APEL (Associação Portuguesa de Editores e Livreiros) coloca a votação a escolha da Livraria preferida dos Portugueses.

A votação já começou e prolonga-se até 21 de junho.

Faça a sua escolha aqui.

A Promessa

Romain Gary conseguiu o feito de receber o prémio Goncourt por duas vezes, a primeira em 1956 pelo livro As raízes do céu e a segunda em 1975 pelo fantástico Uma vida à sua frente escrito sob o pseudónimo de Émile Ajar. O regulamento do prémio define que este apenas se pode receber uma vez. O esquema que montou para ludibriar o júri só foi descoberto após a sua morte, por suicídio, em 1980.

A promessa é um romance com uma base  autobiográfica em que a ficção se mistura com as vivências do autor. 

Ao partir para a guerra Romain faz a promessa à mãe de que irá fazer-lhe justiça e dar-lhe aquilo que ela merece e sonha: um regresso vitorioso e uma vida como artista e diplomata.

Ao longo das 316 páginas do romance vamos acompanhando numa ordem cronológica, apenas quebrada por algumas referências ao local onde está a escrever, a vida de Romain, as suas lutas, as suas paixões, as suas fraquezas, dúvidas e incertezas, mas acima de tudo, o amor que o une à sua mãe. Uma história de luta e superação e acima de tudo uma história de amor materno e filial.

A Paixão

Na primeira parte deste livro conhecemos e acompanhamos Henri, rapaz do campo que, sendo soldado, se cruza com Napoleão e passa a ser um dos seus cozinheiros. Na segunda parte descobrimos a Veneziana Villanelle, mulher fogosa e inconformista que procura um sentido para a sua vida.

No insuportável inverno da campanha russa de Napoleão e após longos anos de batalhas, Henry e Villanelle encontram-se e decidem fugir ao horror e ao frio que os rodeia. Essa fuga irá durar longos meses e levá-los-à a Veneza onde os seus destinos se cimentarão.

Leitura acessível, com alguma fantasia e história, sempre com a paixão, ou o fim desta, como pano de fundo.

A história secreta de A Noiva Judia

A noiva Judia tem como ponto fulcral a obra do pintor  Rembrandt,  com o mesmo nome. O enredo divide-se entre os anos 80 do século XX, quando o protagonista-aspirante a escritor- chega a Paris e trava conhecimento com Rebecca; o início do presente século quando Leo, homem de meia idade regressa a Paris para reencontrar esta mulher que o marcou; e ainda o século XVII e o final de vida de Rembrandt.

O elo de ligação entre as várias épocas é precisamente o famoso quadro e os seus supostos modelos. A retratada seria Abigail, uma antepassada de Rebecca, e o seu par o médico que a teria acompanhado, judeu sefardita Português. Ambas as mulheres são figuras apaixonadas e neuróticas cuja esquizofrenia domina as suas vidas e conduz às suas mortes.

Uma interpretação hipotética de um quadro único, num texto de leitura fácil que nos retrata ainda o final de vida de Rembrandt e as técnicas médicas da época. 

Milkman

Vencedor do prémio Booker 2018 este é um livro brutal. Brutal na forma como aborda o tema e brutal no tema abordado.
Numa cidade sem nome, numa data desconhecida, a protagonista sem nome - referida sempre como irmã do meio - relata na primeira pessoa um momento que foi marcante na sua vida. Passado no final dos anos 70 do século XX, nesta cidade que poderia ser qualquer cidade da Irlanda, à época, esta jovem de 19 anos é vítima de assédio e perseguição por um homem mais velho e casado.
Numa sociedade em que o medo é dominante e paralisador e em que os boatos passam a ser a verdade para muitos, esta jovem, na sua inocência e no entanto com muita clarividência, tem de lidar com estes boatos, com o assédio deste homem, com a incompreensão dos que lhe são mais próximos e ainda com os seus muitos medos.
Este é um livro imperdível apesar de muito denso e duro.

Sete Casas Vazias

Livro de contos da escritora Argentina multi premiada Samanta Schweblin cujo elo de ligação é a casa e as emoções de quem a habita. A casa como cenário para a vida e as suas dificuldades.  As casas são  o espaço que as famílias partilham e onde as relações se desenvolvem, e as relações familiares são difíceis. A autora escreve sobre relações doentes, sobre a intimidade que o interior de uma casa pressupõe proteger e resguardar, mas que é exposta e, de certa forma, violada, numa escrita simples e concisa.

Dia Mundial do Livro

Neste dia tão especial para todos os que amam os livros sugerimos que passem na nossa livraria e tornem este dia ainda mais especial comprando um livro.

Chuva Miúda

Nome maior da literatura Espanhola, Luís Landero relata neste romance a história de uma família disfuncional na qual os ódios e ressentimentos se vêm acumulando desde há muitos anos.

Narrado por Aurora, ouvinte e confidente dos três irmãos Sonia, Andrea e Gabriel, com quem é casada, mas também da mãe destes que vai completar 80 anos, o enredo gira à volta desta data e do facto de Gabriel querer aproveitar a celebração para juntar a família.

As complicações e os problemas que vão surgindo entre os vários elementos da família vão sendo transmitidos a Aurora que, como é seu hábito, tenta ouvir as várias versões e compreender as sensibilidades de cada um dos envolvidos.

Os segredos, a comunicação, a memória e a forma como cada um de nós lida com eles são os temas fortes de um romance bem escrito e que foi considerado pela crítica espanhola o melhor livro de 2019.

A História de uma Serva

Novela gráfica que é a adaptação de Renée Nault de um dos mais emblemáticos romances de Margaret Atwood, estamos perante um livro marcante quer pela abordagem textual quer pelas fantásticas ilustrações.

Gileade é o local onde a ação decorre e neste local as mulheres não têm quaisquer direitos.  Defred era uma mulher ativa, casada e mãe a quem tudo foi retirado para poder cumprir a sua nova e única função: procriar para o comandante e a sua esposa.

Como sobreviver e manter a sanidade mental nas novas circunstâncias da sua vida?

Este é já um dos livros mais lidos no mundo. Recomenda-se vivamente, numa ou noutra versão.

O Coração de Inglaterra

No pico da discussão e da incerteza sobre o Brexit - saída do Reino unido da União Europeia - Jonathan Coe escreveu e publicou este seu romance que acompanha os últimos anos (desde 2016 até 2019) da vida de uma família e de um grupo de amigos de uma pequena cidade Inglesa.

A narrativa inicia com o funeral da mãe de Ben - uma geração que viveu a segunda guerra mundial, a entrada do Reino Unido na União Europeia e que vai partindo, do mesmo modo que vai sendo abandonada por este país uma visão aberta do país e do mundo. A música Adieu to old England que nos acompanha ao longo do livro é simbólica deste fechar de ciclo.

Retrato social e político assertivo e audaz da Inglaterra atual por um escritor nada politicamente correto. 

Este livro foi vencedor do prémio Costa e também do prémio do Livro Europeu da União Europeia.

Muito bom!

Na Floresta

Este romance é uma descida ao inferno de uma mente desequilibrada e torturada.

Baseado numa história verdadeira que aconteceu em 1994, na Irlanda, este livro, arrepiante na sua construção, na forma como nos mantém em suspense e nos interpela sobre a ténue linha que separa a loucura da "normalidade", leva-nos ao interior da mente do jovem O'Kane.

Mitch tem um historial de abandono e maus-tratos e também de esquizofrenia. Institucionalizado durante a sua infância, a instabilidade emocional é uma constante na sua vida e os abusos de que é vítima marcam-no de forma brutal. O resultado desta mistura explosiva será o assassinato de três pessoas inocentes.

A igreja católica como local de integração mas também de pedofilia e abusos psicológicos, assim como a família e as instituições de apoio social estão na mira de Edna O'Brien, que sem delicadeza os acusa de não cumprir as suas funções. 

Este é um livro brutal e, no entanto, fantástico.

Se o disseres na montanha

James Baldwin é um dos grandes nomes da literatura Norte-Americana do século XX e mais concretamente da escrita Afro-Americana. Este foi o seu romance de estreia.

John Grimes é o protagonista adolescente que se encontra num momento de viragem da sua vida. As suas escolhas são limitadas e muito condicionadas pelo que a família e a comunidade esperam dele. Conseguirá ultrapassar essas barreiras e elevar-se acima do meio que o rodeia?

Acompanhamos os pensamentos e sentimentos de John,num livro autobiográfico servido por uma escrita intensa e poética.

A avó e a neve Russa

A minha primeira abordagem à leitura do trabalho de João Reis foi um prazer. 

O autor traz-nos uma criança como protagonista, Canadiano de origem Russa está a ser criado pela avó cujo estado de saúde é débil e se degrada progressivamente ao longo do livro.Com a candura que carateriza as crianças vamos descobrindo o modo como vive, quem são os vizinhos e amigos, o que acontece no seio da família, mas também na sociedade multicultural da cidade de Montréal na atualidade. 

Livro em que a ternura está sempre presente sem retirar, no entanto, o olhar acutilante e objetivo da sociedade dos nossos dias.

Uma vida inteira

Uma vida inteira é a vida de Andreas desde os 4 anos quando chegou áquela aldeia nas montanhas, até à sua morte. 

Livro de leitura fácil e rápida, de escrita simples, pode à primeira vista parecer uma história simplista e sem grande ação, no entanto estamos perante um livro de grande sensibilidade. Na aparente monotonia dos dias e dos anos que vão passando está toda a profundidade e importância da vida.

Cuidar dos vivos

Este romance intenso desenrola-se numa localidade do Norte de França onde Simon e e os amigos se dedicam ao surf. Numa manhã de inverno, quando regressam da praia, um acidente vai mudar tudo.

• Simon é projetado contra o para-brisas da carrinha em que e deslocam e não consegue sobreviver aos ferimentos.

Ao longo das páginas vamos descobrindo os sentimentos dos envolvidos na situação: a família, a namorada, as equipas médicas e também Claire aquela que irá ser a receptora do coração de Simon.

Um livro em torno de uma morte mas que nos fala da vida. Uma escrita com muito ritmo que nos mantém sempre tensos. Um romance inesquecível.

A Barata

Pequena novela de Ian Mc Ewan inspirada n'A Metamorfose de Kafka. Nesta fábula de sátira política acompanhamos os passos de uma barata que se transforma em homem e que se depara com o facto de ser o primeiro-ministro Inglês, encabeçando uma equipa composta quase exclusivamente por elementos da sua espécie.

De leitura rápida e compulsiva, o humor é constante e o sarcasmo que está presente ao longo da obra é o veículo para uma análise da sociedade e dos políticos Britânicos face ao Brexit.

Leituras de 2019

Como vem sendo habitual, no início de mais um ano, deixo a  lista das minhas 10 leituras favoritas do ano transato. 

Em 2019 li menos do que nos anos anteriores, no entanto a percentagem de livros que me agradaram muito, foi superior à habitual. 
Dos 10 títulos abaixo dois são ensaios, os restantes romances. Foi um ano com poucas leituras de autores Portugueses, situação que tentarei corrigir em 2020.

Fica então a lista, cuja ordem é apenas cronológica:

• A morte é um dia que vale a pena viver
• A sexta extinção
• Dor
• Máquinas como eu
• Lanny
• Reservatório 13
• Até os cães
• Pessoas normais
• A única história
• Conduz o teu arado sobre os ossos dos mortos

Boas leituras!

Conduz o teu arado sobre os ossos dos mortos

Olga Tokarczuk escritora Polaca recebeu  os prémios Fémina Estrangeiro 2018, International Man Booker 2018 e o Nobel da Literatura 2019, entre outros.

Numa aldeia remota, nas montanhas que fazem fronteira entre a Polónia e a República Checa, vive uma mulher idosa, professora reformada, amante de astrologia, que divide o seu tempo entre o apoio a um amigo na tradução de William Blake e  a verificação do estado das casas de férias dos vizinhos.

Neste cenário de isolamento e aparente tranquilidade, são cometidos vários crimes. Ao longo da narrativa vamos acompanhando as excentricidades da protagonista num relato que aborda as questões da natureza e da sua proteção,  da crueldade para com os animais, das mudanças sociais que têm acontecido nos últimos anos e ainda nos interpela sobre o que são a loucura ou a justiça, o certo e o errado. Tudo servido com muito humor. 

Ao lermos este romance, segundo livro da autora a ser publicado em Portugal, questionamo-nos porque demorou tanto a sua escrita a chegar cá.

Um livro belíssimo.

Submissão

A minha primeira leitura de Michel Houellebecq foi uma agradável surpresa. Autor best seller, amado por muitos e odiado por outros tantos, frequentemente polémico, a sua escrita não pode, de facto, deixar-nos indiferentes.

Neste romance temos como protagonista um francês de classe média, professor na Universidade da Sorbonne que vê a sua vida balançar quando o partido muçulmano vence as eleições legislativas em França.

Ficção com muito de realidade à mistura (alguns políticos referidos são reais, por exemplo), provoca-nos e interpela-nos pela forma como as alterações vão sendo discretamente introduzidas na sociedade francesa. A introdução da poligamia, a interferência da religião em todos os sectores da sociedade, a forma como as mulheres passam a ser tratadas são algumas das questões que Houellebecq foca com muita pertinência.

Primavera

Ali Smith é sem dúvida um dos grandes nomes da literatura Britânica da atualidade. Terceiro livro da tetralogia com os nomes das estações do ano a ser publicado, o novo romance desta autora foca temas que estão na ordem do dia nomeadamente a questão dos refugiados.

Acompanhamos as histórias de vida de dois protagonistas com percursos muito diferentes: Richard é um homem deprimido pela morte de uma amiga de toda a vida-Paddy e Brit que é uma jovem Inglesa que trabalha num centro de detenção de refugiados e que se sente sem rumo; por fim Florence uma criança estranha e com poderes quase sobrenaturais que vai ser marcante para Paddy e Brit. Os três vão encontrar-se numa estação na Escócia, onde foram parar por acidente.

Uma escrita que nos coloca de forma impiedosa na realidade Britânica e Europeia atual e em simultâneo no mais íntimo de Richard e de Brit. Um livro que nos mostra as trevas que vivemos, mas que também nos deixa a possibilidade de um caminho de esperança.

Less

Arthur Less é um escritor menor e fracassado que ao chegar aos 50 anos se vê perante um balanço de vida que é um desastre. O casamento do seu mais recente amante é a gota de água que o faz partir à volta do mundo. 

O livro trata do amor nas suas várias formas e da nossa dificuldade em envelhecer e viver a velhice.

Bem escrito, com muito humor, recebeu o prémio Pulitzer em 2018.